Um brinde ao amor 🌈 Por Milly Lacombe

Um brinde ao amor 🌈 Por Milly Lacombe

Um brinde ao amor 🌈 Por Milly Lacombe

 

Nenhum direito civil e nenhuma conquista social jamais foi entregue a minorias políticas de bom grado pela classe dominante. A história das conquistas sociais é uma história de luta, de sangue, de perdas, de paixões, de dores e de vitórias. Foi assim com negros, com mulheres, com judeus e com infinitos outros grupos de seres humanos unidos por afinidades afetos legítimos e segregados por leis ilegítimas. No dia 28 de junho de 1969 começava a ser travada abertamente a batalha pelos direitos civis das comunidades LGBTQ mundial. Quando a polícia americana tentou invadir o bar de Stonewall, em Nova York, para arrancar de lá, em ação que já tinha se tornado corriqueira, gays e travestis, quem estava no bar decidiu que era hora de resistir. Com o apoio da população, que começava a achar estranho que se punissem pessoas por amar umas as outras, os frequentadores de Stonewall acabaram reagindo violentamente, de modo a obrigar a polícia a se refugiar dentro do bar. As imagens da batalha de Stonewall foram distribuídas pelos canais de TV, e, para surpresa geral, a opinião pública tomou o lado da comunidade LGBTQ, mostrando que havia ali espaço para que brigássemos por direitos civis.

Cinquenta anos depois de Stonewall, seguimos lutando pelo direito de amar e de demonstrar afeto. As conquistas, elas são lentas e acontecem porque, a despeito da opressão, da repressão e da violência daqueles que estão no poder, as comunidades envolvidas na luta simplesmente não desistem. O Brasil é o país que mais mata LGBTQs no mundo e também o que mais consome pornografia LGBTQ no mundo. Duas estatísticas que, combinadas, contam a história da LGBTfobia.

O mundo tem um jeito meio destrambelhado de andar para frente, fazendo ziguezagues estranhos que dão a impressão de que, vez ou outra, estamos cambaleando para trás, mas a verdade é que não se anda para trás. Não se anda para trás porque nós, os esquisitos, os devassos, os desencaixados, os estranhos, as bichas, as travestis, as trans, as sapatão, os trans e todos aqueles que entendem que a luta política é a luta por formas diferentes de vida que, como disse o professor Vladimir Safatle, se organizam a partir de afetos, não vamos deixar.

A palavra orgulho que move a comunidade LGBTQ é muitas vezes entendida em sua forma menos potente. O orgulho a que nos referimos não é exatamente o orgulho de sermos LGBTQ, mas o orgulho de ter a coragem de ser quem somos dentro de uma sociedade que, todos os dias e das formas mais violentas, tenta nos dizer que não podemos ser. Não há existência sem visibilidade, e a nossa existência, fora dos armários da repressão e da opressão, está apenas começando a ocupar todos os espaços que também são nossos mas que não nos continham. Não tem mais volta.

Um brinde ao amor e a todas as formas de amar.

Milly Lacombe é jornalista e escreve há mais de 15 anos sobre diversidade e gênero nas revistas TPM e TRIP

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