Sempre pensei ter a alma como aquelas árvores de copa grande. Que anseiam por tocar as nuvens e macular o azul do céu. Por fazer sombra em terrenos onde arde o sol.
Nunca pensei ser, ao invés, daquele outro tipo. De grandes raízes. Que precisam de espaço sob a terra para crescer. Que cavam. Escavam. Estouram asfaltos. Racham calçadas. E que dependem disso para se sustentarem. E manterem-se em pé.
Talvez por isso precisei, sempre, plantar-me em terrenos tão longíquos. Onde teria a certeza de não machucar, com minhas raízes, aqueles ao meu redor. E nem quebrar as fundamentações daquilo construído em meu entorno.
E hoje, no intervalo de cada leve brisa de liberdade que sopra em meus galhos, sinto o frio da solidão que percorrem minha estirpe. Que, ironicamente, por mais longa que seja, não deixarão – nunca – de estarem distantes.
Raízes
Postado em 5 de abril de 2017 em Poesia